Guardians of the Time, Manfred Kielnhofer, 2007
Algoritmos
são de direita, de centro ou de esquerda? Existe ideologia nestas
construções lógicas transformadas em tomadores de decisões
nos tempos atuais?
Algoritmos:
ferramentas criadas para dispensar trabalhadores, prescindir de mão
de obra, evitar a burocracia, facilitar o contato direto entre desejo
e mercadoria, além de terceirizar e precarizar as relações. Fonte
de sucesso de aplicativos, usado e abusado pelas grandes corporações
digitais no direcionamento do trafego da procura por coisas e
mercadorias.
Vivemos
a era da interatividade instantânea. Nunca desejo e mercadoria
estiveram tão próximos. Os algoritmos criaram uma relação de
conveniência que facilita a vida do consumidor ao
mesmo tempo que proporcionam altos
lucros a serem distribuídos
entre acionistas e bonificar gostosamente
uma malta de executivos
anualmente.
Este
é o toque de midas da
indústria da informação: transformar vontade em dinheiro. Isto
faz do algoritmo o grande
cafetão das relações
no mundo virtual.
E a
ideologia do cafetão é sua amoralidade, não estar nem
aí para qualquer princípio
ou valor que não seja sua
própria satisfação.
Ao
privilegiar a relação desejo satisfação, os
criadores e implementadores de
algoritmos não têm levado
em conta aspectos éticos,
sensíveis, aspectos humanos… Mas
aí, diriam os pacientes, num dia de excessivo otimismo: Ora,
isto é algo novo, em vias de teste, vai chegar uma hora em que tudo
melhorará e teremos uma sociedade perfeitamente integrada e sem
intermediários que não a lógica e a exata matemática.
Sou
um sujeito inquieto,
então convido
vocês a fazerem comigo uma simulação:
digamos que alguém deseja
destruir a diversidade humana e colocar no lugar meia
dúzia de troços
ditados por uma entidade sobrenatural. Como
se comporta o algoritmo? Não
dá a mínima para
os aspectos legais ou ilegais envolvidos na
satisfação deste desejo. Em vez de mandar
o sujeito ir para a ponte
que o partiu simplesmente irá
colocá-lo
em contato com outros dementes da mesma laia e dar
uma banana para o resto porque
o que vale é saber que
a ferramenta funciona e de
que o recado chega redondo
ao devido destinatário. E
com isto nos abre as portas
do hospício, onde todos os
doentes mentais,
nos mais variados graus de insanidade, conseguem encontrar guarida e,
ainda por cima, respaldo jurídico sob a alegação de que a
Democracia garante a liberdade de expressão dos facínoras.
Querem
outra? Cadastrei meu
apartamento em um desses aplicativos de
compra e venda de imóveis. Botei
lá um valor que considero
justo
– levando em conta o local, os arredores e as facilidades
existentes
no entorno… O que
aconteceu? Não passa dia sem que o danadinho do algoritmo me
envie um relatório onde, com
base em exaustivas pesquisas (o algoritmo trabalha dia e noite, sete
dias por semana, 24 horas por dia) ele
informa que, para melhor me posicionar diante da concorrência, devo
abaixar o preço. Pelo raciocínio lógico do mequetrefe chegará dia
em que terei que pagar para alguém comprar o imóvel.
É
ou não um trem do outro mundo este tal algoritmo. No fundo
ele conta mesmo é com o nosso desespero. Isto me lembra o ditado: só
existe malandro porque todo dia nasce um otário.