sábado, 16 de agosto de 2025

as mil máscaras do doutor nein

 


Imagem criada no Google Gemini


outro dia topei

com um sujeito vestido de cadáver

a brandir um ensebado livro

e cuspir uma singela revelação


antes que conseguisse me desvencilhar

vociferou a sufocar meu pulso:

branco é a única cor

e tu és um demônio, pobre

a patinar no sangue seco das calçadas,

culpado da tua própria exclusão – escuta!


O dedo em sentença,

escolheu uma página aleatória

no livro escudo

e agrediu meus sentidos

com uma receita da prosperidade:

imite o patrão –

esse sol que arde mas não queima!


renegue o perseguido, desafiou:

o mal que te habita em negação

tu, anticidadão do bem,

prisioneiro de meia dúzia de baderneiros,

em terra arrasada vivente,

tu, índio, preguiçoso, preto

nordestino, baiano, paraíba

analfabeto, cachaceiro,

bucho de cuscuz, bucha de canhão… lembrai!

foste abençoado pelo dono da liberdade,

o divino criador de tudo e todos,

sabedor de toda agulha no palheiro

conhecedor de toda desilusão… ele

tem um módico plano para ti:

todos os privilégios do mundo

além da salvação eterna

se obedeceres… oh, glória, aleluia…

amém?


ameacei chamar a polícia

ele riu

e apontou para a câmera

pendurada no peito

e para o distintivo dourado

estufado na lapela do seu surrado uniforme...



 

 

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