o perfume que vem da casa ao lado
o alarido juvenil a afastar demônios
os latidos dos cães na madrugada
o ruido das ondas a descansar na praia
o gotejar da chuva na telha de flandres
a ventania que assusta os coqueiros
e a lembrança daquele amor que partiu
a sala úmida cheira a passado
e o frango com verduras que fiz ontem
me faz pensar em dormir e sonhar
até que a tarde vista o manto noturno
e acalente no colo o bebê chorão
que deseja crescer e ir pra rua aprender
a alegria quente e fria do são joão
os olhares ameaçadores dos homens, eis!
e a indiferença de suas mulheres,
maquiadas adolescentes esquecidas
de suas velhas mães banguelas
que puxam conversa no coletivo
e despertam o fingimento covarde
das pretensões burguesas televisionadas
nas ignorâncias demasiadas
meu próximo é um concorrente
devo simular que posso (quero crer)
e apertar a campainha, descer no ponto
que, neste começo de noite, me cabe…
quem sabe sinta o perfume que a vizinha exala
e ouça a criançada a botar pra correr os demônios
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