sábado, 13 de novembro de 2021

a palavra que nos resta

 

Devils Confronting Dante and Virgil, Gustave Doré, 1890




vai daí, mano, fala mal

mas fala bem mal, mete bronca -

que a flor maldita, essa canibal

perfumada de carne podre

se torne estéril um dia… um dia…


partiste e vives de partir,

morrer de saudade e voltar

encarar os demônios

demônios normais, cotidianos

que não te querem aqui

que não te querem em canto nenhum


viver é uma afronta (sacaste isto antes de mim)


mas e quanto aos teus

os que ficaram e ficam, nós

que nem mais esperam

nada de ti, além que sobrevivas

no tapa na cara, lâmina no olho

chute na bunda, deles – inimigos mortais…


demônio a gente vence

demônio a gente acerta no meio da fala

vai pra rua, exibe a unha

e canta... a palavra - 

esse tudo que nos resta!


 

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