sábado, 28 de dezembro de 2019

poema para o réveillon


Cartão de Ano Novo, MC Escher, 1946



cuidado com as muletas que te apoiam
passado o além muros
notas dissonantes
          fantasia frágil e efêmera
pranteiam futura melodia... 
          instantânea foto golpeia o ar:

cuidado com as tábuas de salvação a 1,99
cuidado com as fórmulas adquiridas de ambulantes
cuidado com a roupa que vestes
com a comida que comes
com a vida que levas
com os medos que embalas
com o pastoreio de fantasmas
com a contação de histórias para sociopatas dormirem

melhor que vigies a ti mesmo
assim evitarás as tentações do paraíso e as delícias do inferno
e se algum dia te sentires emergido das tuas escuridões
pense duas vezes antes de sacrificares a sanidade
em nome de qualquer histeria
porque o mundo não fará nenhum reparo à tua submissão
mesmo que tragas antípodas de mãos dadas estampados no teu brasão
(ou que algum dia tenhas acreditado que fumar era elegante)
serás banhado pela saliva que goteja dos caninos
do dono do tal arbítrio imponderável
aquele senhor enorme, gerente de todas as virtudes

pois isso mães, continuem a mentir; pais, ignorem as fábulas
eis que em meio à multidão
          (feira onde é corriqueiro se comprar e vender gato por lebre)
solitárias crianças (açuladas
por afetos, desejos, sonhos, temores, caminhos e quimeras)
aguardam na corda bamba
o equilíbrio reverso entre deuses e verdades



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