sábado, 24 de agosto de 2019

uma floresta arde em meus olhos


Fire, Francesco Clemente, 1982





o trabalho dignifica o homem…
por isso, em protesto, queimam o país
e estabelecem que a Terra
é pequena demais para tantas espécies,
que é complicado
colocar em marcha tamanha diversidade

eis aí o senhor arbítrio,
livre mercado em última instância,
gangrena a nos expor ao cálculo
sem que haja limite a tal vontade,
tal fissura irresistível de poder…

de onde surgem tais seres
de que ventres são gerados
de onde nos vêm tal antipatia
ao ponto de devolvermos à Terra
apenas lixo, desprezo e fim?

ontem a floresta entrou em minha sala
e fez arder em meus olhos uma história de futuro
e enquanto uma orgia quimérica,
de desejos entorpecidos de vícios e testosterona,
anabolizados por mandos e desmandos,
fecundavam de ruína a paciente Natureza

minha mente acordou para uma antiga lição
cantada por uma costumeira flor
que brota em qualquer coração…

e as palavras, dentro de mim, dobraram como sinos
diante do crepitar da última catástrofe:
“diariamente
havia alguém que tratava um cão
com extrema grosseria…
um belo dia
indiferente
o animal
pura e simplesmente
mordeu
o infiel de morte”



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