sábado, 2 de fevereiro de 2019

tropical butantã


Corps à corps bleu, Gerard Fromanger, 2006


hoje tem balada adolescente no tropical butantã…

para sair do prédio
devo ser simpático
e pedir licença
para alcançar ao boteco do mateus
onde
às 13:00
encontrarei pais zelosos
e suas águas minerais geladas
seus picolés e celulares nervosos
além de suas esposas
mães suadas
ansiosas
descontroladas com o paradoxo da fila
nada disso me impede
de ver
todavia
o ambulante com síndrome de william
o tio careca com olhos vítreos nas pernas roliças da menina
o homem de olhos amarelos e face rochosa
e a moça que aguarda
(na grade da casa abandonada)
a legitimidade conferida pela velhinha da unidade 23
pois é...
nessa quase tarde
ainda quando o sol insiste em dizer bom dia
surge também um motoqueiro
barbudo
de óculos escuros
acompanhado da sua criança andrógina
protegida por fones de ouvidos
um baita sanduíche
e um refrigerante de 600 ml…

ah, meus amigos
a alegria caprichosa e barulhenta do futuro nacional
não me permite esquecer o fantasma faminto que vos fala
esse espectro
que pego de surpresa
diante dos olhos ávidos
e da língua fácil do comercial de tv
imediatamente planeja
e entrega à página em branco
seu sacrifício diário
singela oferenda
incompleto retrato
da nossa movediça mobilidade
e atrevido
em epígrafe
taumaturga os ouvidos de quem o ouça:
“só os malucos, os doentes, os tolos
torcem por um final feliz
e mesmo que na fila todos sejam salvos
(e serão)
meu estomago já está por demais estragado”

… só resta então pedir mais uma
e fazer de conta que tudo não passa de uma fantasia sci-fi
sem qualquer artificio

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