sábado, 20 de outubro de 2018

delírio matinal 18º dia


Counterpane, Frank Stella, 1989



há uma estrada que se bifurca
em outra estrada
que leva a outros mundos
que se bifurcam
em estradas bifurcadas
no ponto exato onde a pergunta
dissipa o medo do quarto escuro

há uma estrada debaixo da cama
que rói as unhas e come pipoca
dentro do armário, detrás das cortinas
entre sofismas e incontáveis paradoxos
uma estrada-esfinge, guardiã da passagem
perplexo dèjá-vu
em nauseante slow motion

e logo ali, bifurcada, há uma outra
estrada onde as fantasias mapeiam jogos
gincanas, pelejas e campeonatos
uma estrada na qual os artistas contemplam
o principio
de que o tesouro permanece
em repouso
no coração do indivíduo ao lado

nessa estrada, onde o poema
que sai em busca de uma rima
(e às vezes se debate numa rua sem saída)
jamais estaciona ao pé da letra
nem morre na urgência de colorir o verso
nessa estrada afinal, qualquer história
é uma história derivada daquela
de outras tantas de tantas outras e quantas sejam
suas infindáveis bifurcações



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