sábado, 16 de setembro de 2017

delírio matinal 12º dia

Boy without darkness
Julio Galan, 1996



quando a justiça
finalmente
decidiu fechar o perverso edifício,
a invisível criança
deixou-se ficar na entrada
a imaginar para onde iria
o que faria… e inocente,
sem lhe passar pela cabeça fabricar vingança
ocorreu-lhe,
entre um pensamento e outro,
a certeza
de que todos os mortos seriam enterrados
e a expectativa
de que o esquecimento a protegeria do futuro

antes que outra manhã despertasse
antes que novamente o dia
prosseguisse corriqueiro
no seu incessante pesadelo,
riscou um fósforo em suas retinas

obstinadas labaredas,
frenéticas, insaciáveis e joviais
irmanaram-se, purgativas,
em espirais de volúpia
e foi frustrante verificar
o cinzento breve evento
esvair-se em fumo a anunciar pela vizinhança
a ocorrência de mais uma metáfora cotidiana


Nenhum comentário:

Postar um comentário