sábado, 5 de agosto de 2017

o fardo do poema

the ephemeral time under its apocalyptic antithesis
Chicote CFC, 2015



me amarro nas coisas,
diz o moço ali ao lado,
no meu tempo
nas coisas do meu tempo
na tecnologia
na desvairada perspectiva
daquilo que me garante
subir, subir, subir...

me amarro sim
em nós
nesse teu jeito inocente
preciosamente cordial
de mentir
e repetir
que sou
isso, aquilo
de um tudo, o mar

sobretudo
me amarro em ficar
aqui
agora-já
jogar pra ganhar
e sempre
me dar bem
custe
o que custar

penso em eclesiastes
em meio à escuridão
do seu espanto indulgente:
- que mal tem
na vontade
de ser alguém?
apenas os espertos
concebem atalhos, baby…

e vaga, meu vizinho arrivista,
confiante na ilusão de movimento
e de que a liberdade é
escolher um jeans
amarrotado
só para parecer descolado
e existir absolutamente indiferente ao ladrão

se os pensamentos fossem nuvens
dissipariam a astúcia desse efêmero
mas como vive de temer a morte
e jamais trará à luz qualquer mudança
que o incômodo do poema
lhe seja eterno e constante.


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