sábado, 7 de maio de 2016

Testamento


Um Cão Andaluz, Luis Buñuel, 1929




Presos em nosso labirinto de mediocridades,
incapazes de realizar um esforço endógeno minimante coerente,
desprovidos de forças nacionais renovadoras,
caminhamos para estacionar em nosso lugar natural no sistema-mundo,
a mais extrema periferia.
César Benjamim





Oscilante entre a revolta e o golpe
Amanhã restarei vazio… Para onde
Contra quem dirigirei o meu ódio?

A vitória tem gosto amargo
Sela-me a boca, seca-me a fala…

Ganhei não porque joguei bem
Ganhei porque fui tenaz na injúria

Daí o meu fracasso
Eu, ilha desonrada, caolho
Habitado de dívidas
Cercado de crimes por todos os lados

Berro de cátedra:
Dane-se o fair play
Minha justiça é minha
Sempre minha e bastarda

Jogo por um deus que descreio
Por uma família que não tenho
Por uma pátria anacrônica e burra
Por mim mesmo, impossível e caro

Meu mérito, este monstro que me deforma,
É não temer a vergonha da minha estupidez

Entrego, portanto, à história, esta infâmia:
Meu nome exposto, desenhado com bosta.


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