Orfeu e Eurídice, Edward Poynter, 1862
A
estupidez engendra o caos
Segue-se
a perplexidade…
E
um novo despertar.
Desce, Orfeu
Ao inferno outra vez
Desce, amado
Empunha tua lira
mansa
E com teu canto
meigo
Abra caminho entre
as sombras e os fantasmas
Distribua sossego às
almas penadas
Sereno e suave
inunde de luz as pavorosas trevas
Por amor
Sempre por amor
Desce, Orfeu
Desce mais uma vez
Ao tenebroso sítio
Que Sísifo deixe de
empurrar sua pedra inútil
Que Tântalo
estanque por instante sua insaciável fome
Que as Danaides
descansem de sua faina de encher tonéis sem fundo…
E quando tiveres
mais uma vez comovido o sombrio Tártaro
Pegue outra vez pela
mão a metade da tua alma, Eurídice
Que assediada
preferiu a morte a te trair, Eurídice
Este eco que teus
lábios ansiosos louvam e suspiram
Mas cuidado, meu
doce poeta
Cuidado, refreia tua
dúvida
Não deixes tua
impaciência
Tua saudade, tua
carência
Teu desejo enorme de
presença
Transforme outra vez
teu sonho em névoa
Quem sabe, Orfeu
Quem sabe se desta
vez
Tu não olharás
para trás
Quem sabe se desta
vez
Escaparás
finalmente das mãos vingativas das mulheres
E da devastação
que os deuses têm reservado para nós.
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