sábado, 17 de outubro de 2015

Canção Desabrigada

A Rua, Romul Nutiu, 2010


Caminho por estas ruas rabiscadas
Como se as esquinas me fossem ainda familiares

Rostos alternam-se, programados para parecerem aleatórios

Olho pro céu e lembro de rogar ao cinza
Uma outra cor possível, nascida neste canto da calçada
Mas, probrezinha, não me ouve, apenas arde minhas retinas cansadas.

Passa por mim um desfile rouco, agressivo
Flecha disparada de outro tempo, de uma outra dimensão
Quer dizer algo, parece querer dizer, este alarido, anunciar alguma coisa...
Frustrado, vejo tratar-se de mais um descuido,
Repetitivo, previsível como um tele comentário esportivo na hora do almoço

Não há mais sinais por aqui nestes dias tão iguais.

Queria que estivesses aqui, talvez assim eu não cogitasse
Acabar com aquela madrugada e não teria que questionar
Para que a manhã, por que um dia a mais
Se continuo a padecer dessa lembrança a me existir?

Sinceramente: não sei o que dói mais.  




Um comentário:

  1. Seus poemas estão cada vez mais emocionados, mais rascantes, como um bom vinho tinto encorpado.

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