sábado, 29 de agosto de 2015

Idílio


Idyll, Francis Picabia, 1927



Sentemos, querida, à beira desse rio acre
E bêbados, sonhemos com canais venezianos.

Lavemos nossas mãos nas águas desses esgotos,
E, abluídos, esqueçamos o temor da iminente convulsão.

Grávidos de ideais, arriemos nossos corpos no cimento
Dessa enxovalhada praça, enquanto nos comove o bate-estaca

Contemplemos, amor, o carrossel exuberante dos gazes
Que soberanos adornam a atmosfera da nossa fáustica cidade.

Ouçamos a sinfonia das máquinas e a avalanche de pessoas
No crepúsculo afogado na fuligem de desejos gastos

Vem, amada, lancemo-nos, voemos livres dessa náusea,
Pois antes que o dia acabe havemos de chorar nossa natural promiscuidade.  


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