sábado, 11 de julho de 2015

O Homem que Amava Decadências

Dacay, Louis Cifer, 2008



Que direito eles têm de estragar os tomates, os morangos?
Derrubar as árvores desse lugar que era tão bonito?
Sinto-me enxotado.

Camilo Vergara, fotógrafo



Rugas lhe destoam a face
Faltam dentes no insuspeito riso

Lábios carnudos, acerbo hálito
Reclamam coaguladas lágrimas

Presas no escuro de arruinados olhos
Pupilas impertinentes, vão e vêm

Refém de dessabidos acordes
Eis uma canção incerta, descuidada

Potentes seios – vítimas ao acaso –
Contrastam com resguardados desejos 

Língua nervosa desenha metafísicas
Nos acidentes do corpo dissonante

Dissimulados, segredos e dores
Bordejam desatinada tormenta

Fora, fora
Deixe-me cair.

Acaricio seus contrafeitos ombros
E inoportuno convoco a partida

Num recuo aponta-me o dedo esquecido
Da fatia de pão no piso encardido e sujo…

Ao beijar-lhe o rosto
Alimento o sonho de redimi-la

Entrelaço nossas mãos e rumamos
Ela e eu nesta rua invisíveis.  


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