sábado, 6 de junho de 2015

O Santo Canalha

O passeio da família, Debret, 1837


Com séquito e alarde assim que chegou
Colocou-se em primeiro na fila
Tomou longa vaia, sonora e sentida
E a rabeira da bicha alguém indicou

Aguardasse a vez com paciência e calma
O processo é longo, complexo e pesado
Incontáveis páginas forravam os autos
Em mil volumes registravam seu drama

Onde estavam os causídicos
Que o caso era simples e intenso
Que tudo aquilo fugia ao senso
Fruto de inveja e de fatos inverídicos

Tascou o dedo na cara do gasto
Se sabia com quem falava o deão
Cobrou respeito, garbo e rojão
Para receber alguém do seu fausto

Nunca na vida fora tão humilhado
Tanto acinte, boçais, unha de fome
Não via o tamanho do seu sobrenome
Fidalguia que vinha de vetusto telhado?

Que apareça o responsável
Possuía amigos no alto escalão
Ter juízes plenos na palma da mão
Dá ou não dá cabido estável?

Exijo tratamento diferenciado, distinto
Tenho cacife, carta na manga, QI
E após longo alvoroço e tremendo piti
Finalmente, veio o chefe de olhos castos

Falou-lhe que ali não havia privilégios
Não fizesse tanto barulho por nada
Que teria hora e lugar a jornada
Que a justiça não podia sofrer sacrilégios

Que aguardasse quietinho o sistema
Senão em coisa pior podia ser pilhado
Injuriado, gritou: até aqui aparelhado
É hora de acabar com esse esquema.

Juntar-me-ei ao diabo concedente
Que o meu céu quero agora e caluda
E como sentença para tal mão peluda
Torna à vida pra castigo da gente.  


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