sábado, 4 de abril de 2015

Não despertemos cadáveres

A Man in the World, Pavel Filonov, 1925


Que quer
O homem
Que olha
(Aprenderia
Futebol?)
Não vejo
Em ti
Sinal de loucura
Estava calmo
Uma música
O amansara
Naquela tarde
(Aprenderia
Um instrumento?)
Bela tarde
O pôr do sol
Parecia que havia
Qualquer coisa
De puro
Embora não houvesse
Nenhuma realidade
Naquele arco-íris
Perdido
Naquele manto
Prateado
Da lua sobre as águas
Que refletia
O homem
Sem sombra
E o delírio
Na janela aberta
Nele sossegado
No ônibus insensato
Na poltrona mentirosa
Quanto incômodo
Esse vizinho
Que coisa é?
E nada haverá
De lhe lavar a boca
E a voz que canta
Que é pra viver
Em si assim
Que é pra viver
Mesmo que seja
Esse pensamento sujo
Cujo final sabe que sobra
Mas quem disse que soçobra
Esse homem
Que chora
Sentimental
De tão bobo
Familiar em tudo
Esse homem
Que não declara poesia
Para pessoas apressadas
E que lamenta apenas
A extravagância
Que nos empurra
Pra esquecer
Mas é preciso
Amigos
Esquecer
É preciso.
Não existe motivo
Para despertar cadáveres.  



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