sábado, 22 de novembro de 2014

Despedida


Farewell, Marc Chagall, 1985


I
Não me obrigue a caminhar sobre pedras
Desejo apenas chegar àquela esquina.
Por favor, não quero pensar mal de mim
Crês por acaso que não sei das minhas limitações
Que costumo chorar e até me faço de vítima só pra te agradar.
Queres o que mais de mim se minha fraqueza é toda tua?
Sabes o quanto detesto carregar náuseas
Que não consigo disfarçar mágoas
Que odeio cicatrizes no meu peito
E esse fogo queimando, ardendo
Enquanto olho pra baixo e imagino alturas.
E vens agora com te amo… Deixa,
Farei de conta que é sempre assim
Que não há jeito, que esse nosso amor
Será sempre um desculpa aí.
Queria que ontem fosse diferente
E que a gente soubesse o que é romance
E jamais olhar pra trás por que dói olhar pra trás
É triste olhar pra trás quando é só isso
Que tenho contigo agora quero chegar àquela esquina.


II
O meu medo é que
Ao chegar e toc toc na porta
Ninguém atenda…
Tudo, menos indiferença!


III
Cansei de histórias
Minha imaginação tem limites
Meu corpo parece uma árvore
Que decidiu virar pedra
Dentro do oco no ar.


IV
Cá estou, mais uma vez nesse tardio tchau
Morreu e ficou por isso mesmo
Morto, morrido, matado
Um retrato amarelo
Um fiapo de cabelo
E uma lembrança
Pra lá de controversa.
Morreu, morreu.
E é bom que fique mesmo
Já pensou se os mortos decidem falar?
Deixar que os mortos morram
Faz um bem danado à saúde.







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