sábado, 5 de julho de 2014

Rico é viver num inferno de delícias


Hell under, Hell aboce, Hell All Around
James Enson, 1888


O craque está fora da Copa e nossa alma ferida. E agora? Agora nos agarramos aos caracóis dos cabelos de David Luiz, o nosso zagueiro gente fina, e vamos pra batalha, o temido jogo contra a Alemanha, na terça-feira.
Enquanto isto aproveito pra fazer uma reflexãozinha sobre o futuro, para o day after da Copa.
É público e notório que cerca de 90 mil pessoas controlam um terço da riqueza mundial e respondem pela metade dos depósitos em paraísos fiscais.
Um total de 8,4 milhões de pessoas (0,14% da população mundial) concentram 51% da riqueza humana.
No Brasil, 15 famílias (cerca de 99 pessoas) possuem juntas uma fortuna de mais de 200 bilhões de reais, cerca de 5% do PIB.
Para se ter uma dimensão, o Bolsa Família, o programa brasileiro de transferência de renda, atende a 14 milhões de famílias, a um custo de 28 bilhões, cerca de 0,5% do PIB.
Mas tem gente que chia. A estes, que se miram no espelho dourado da desigualdade, preparei uma cartilha com algumas dicas úteis para fazer disparar, no livre mercado de capitais, o seu pezinho de meia.
Primeiro de tudo, procure herdar uma fortuna, porque do trabalho pode ir tirando seu cavalinho da chuva.
Depois, aprenda a subdeclarar impostos. Declare sempre menos do que ganha e esconda sempre a diferença. Isto multiplicará seus ganhos e potencializará seu lucro.
Monte uma empresa fantasma em um paraíso fiscal. E por razões claras use laranjas. Quantas você achar conveniente. E não esqueça de nomear testas de ferro para não atrair publicidade sobre os seus investimentos. Crie Fundações. São fontes de deduções de impostos. Ademais, ninguém sabe os que elas fazem porque ninguém as fiscaliza.
Estabeleça residência fora do país. É um direito seu, mudar de país para pagar menos impostos.
Contrate os melhores advogados para que lhe mostre todas as brechas legais que o sistema oferece para você escapar de todo e qualquer processo e ainda sair com algum.
E finalmente, conte sempre com a fragilidade do nosso sistema financeiro e com o sagrado direito dos bancos em manterem sob sigilo as listas dos sonegadores.


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