sábado, 8 de março de 2014

O Fracasso da Nobreza



Dead End, Jacek Yerka, 1980


Não foi Madalena perdoada? A partir daquele instante deixou de entregar seu corpo ao mundo. Passou a acompanhar o mestre, tornou-se pura. Figura, hoje, ao lado dos bons, justos e virtuosos. Madalena é a prova inconteste de que é possível domesticar o demônio. O segredo está em esquecer. Amputar a memória. Apenas no esquecimento a mulher iguala-se ao homem.

(…)

A natureza feminina é má e fraca. Fraca porque é má, má porque é fraca. Tende à ruína. Pelos sentidos. Acusaste-me de fraco, incapaz de resistir aos teus encantos. Nunca estiveste tão certa. Em condenar-te.

(…)

Claro que existe bondade mas ela é um atributo exclusivamente masculino. Quem primeiro perdoou? De quem a mulher aprendeu o perdão?

(…)

Quem arrancou de ti toda pecha, todo estigma? Quem limpou tua barra, pagou tuas dívidas, curou tuas chagas? Quem removeu as cicatrizes que desfiguravam teu corpo?

(…)

Ah, quando te conheci… Tão perdida e tão linda. Te olhei nos olhos, penetrei na tua miséria para te resgatar das trevas, te devolver à luz. Tu tão refratária. O que peço?

(…)

O que para a mulher é gozo para o homem é missão. Que vale mais: teu gozo ou minha missão? Acaso devo renegar a potência, impedir a livre expressão da minha masculinidade? Quanto egoísmo! Existem outras, tão vítimas do pecado quanto tu, corrompidas e frágeis.

(…)

Lembro de ti, na sarjeta, pagando tributo à escória, tão suja, tão rameira, capaz de lamber o chão por alguns trocados… E no entanto, meu compromisso te trouxe até aqui. Eis a prova maior do meu amor. Minha constância. Alegra-te e cala.

(…)

És o meu troféu, meu prêmio mais cobiçado. Lutei por ti, lutei muito por ti, és meu ganho. E por tudo isto te fiz respeitável… Teu filho tem um nome, o meu nome. E falas em rejeitar meus desejos?

- Quando fracassa a nobreza o que resta?

Não enten…!


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