sábado, 27 de julho de 2013

Em Busca da Estação Perdida


Escultura, Howard Finster, 1983


I
Meu trenzinho faz tu tu
Meu trenzinho piuí

Dentro da nuvem azul
Vai meu trenzinho tu tu

Na fumaça desse trem
Sigo pra longe também.

Piuí, tu tu!

II
Todos os monstros, um dia
Tiveram infância...

Um dia, todos os monstros
Foram nascidos também.

III
A vida tem lá seus motivos
Para manter-me ainda aqui

Antes me matasse essa ideia
Que a dor que trago fixa

IV
Sou um tomador de conta.

Já tomei conta de tudo que é qualidade de bicho
Já tomei conta de casa, de rua, de igreja, de terreno baldio
Já tomei conta de boteco, salão de festa, campo de futebol
Já tomei conta até de zona...

(Só nunca tomei conta de criança...
Não levo jeito pra coisa)

De meu, só a vergonha...
Vergonha que me jogam na cara.
Vergonha de não ter serventia pra nada.

V
O anti-Nietzsche, soterrado pela culpa,
Sacode a cabeça na vã tentativa de dissipá-la.

Os olhos da alma não dormem
Tiranos, esquecem de esquecer.

Amigamente disse-me um poeta:
“Poderás encontrar um amigo
No fantasma que te habita”.

Tremo só de pensar naquela raiva
Dói-me o adorno, essa couraça
Em minhas pálpebras, uma mordaça...

Existem dragões para enfrentar, quantos...
Somente dois olhos pra cegar, tantos...

VI
Quando a gente fica triste
Tudo parece cinza...

… Costumo contemplar
O mar de lágrimas.

… Esperança de encontrar
O verdadeiro inimigo.

… Olhar nos seus olhos turvos
E finalmente me encontrar.

VII
Esta antiga maldição
Tão mal distribuída...

Os culpados
Negociam suas penas.
Ao passo que nós
A temos compulsória.

Preciso devorar a esfinge e decifrar o humano
Antes que o inferno seja de fato o outro.


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