Escultura, Howard Finster, 1983
I
Meu trenzinho faz tu tu
Meu trenzinho piuí
Dentro da nuvem azul
Vai meu trenzinho tu tu
Na fumaça desse trem
Sigo pra longe também.
Piuí, tu tu!
II
Todos os monstros, um
dia
Tiveram infância...
Um dia, todos os
monstros
Foram nascidos também.
III
A vida tem lá seus
motivos
Para manter-me ainda
aqui
Antes me matasse essa
ideia
Que a dor que trago
fixa
IV
Sou um
tomador de conta.
Já tomei
conta de tudo que é qualidade de bicho
Já tomei
conta de casa, de rua, de igreja, de terreno baldio
Já tomei
conta de boteco, salão de festa, campo de futebol
Já tomei
conta até de zona...
(Só
nunca tomei conta de criança...
Não levo
jeito pra coisa)
De meu,
só a vergonha...
Vergonha
que me jogam na cara.
Vergonha
de não ter serventia pra nada.
V
O anti-Nietzsche,
soterrado pela culpa,
Sacode a cabeça na vã
tentativa de dissipá-la.
Os olhos da alma não
dormem
Tiranos, esquecem de
esquecer.
Amigamente disse-me um
poeta:
“Poderás encontrar
um amigo
No fantasma que te
habita”.
Tremo só de pensar
naquela raiva
Dói-me o adorno, essa
couraça
Em minhas pálpebras,
uma mordaça...
Existem dragões para
enfrentar, quantos...
Somente dois olhos pra
cegar, tantos...
VI
Quando a gente fica
triste
Tudo parece cinza...
… Costumo contemplar
O mar de lágrimas.
… Esperança de
encontrar
O verdadeiro inimigo.
… Olhar nos seus
olhos turvos
E finalmente me
encontrar.
VII
Esta antiga maldição
Tão mal distribuída...
Os culpados
Negociam suas penas.
Ao passo que nós
A temos compulsória.
Preciso devorar a
esfinge e decifrar o humano
Antes que o inferno
seja de fato o outro.
Tranpamcham!
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