sábado, 17 de dezembro de 2011

O Reflexo e a Sombra


Cena de Metropolis, Fritz Lang, 1927



Na copa dos edifícios, assoma furtivo vulto
Sílfide, saltita e grasna irrequieto flerte

Travessa canção súbito me desperta
Estanco e aguardo inesperado fado

Traz singular figura de ignoto passo
Em suas escamas o meu nome tatuado

A lua alheia assiste na cidade breve
Excessivo ato em pleno fim de tarde

Perverso, rasteja o vulto transmutado em larva
Frágil como um rebento a buscar um seio farto

Repleto de tais intenções sussurra encantos
Iminente ato vil, prova cabal do seu intento

Enrosca-se e acaricia, sem pressa, aveludado
A salivar vocábulos de paradigmas natimortos

- O lixo, onde devo descartar o lixo,
Todo o lixo que trago escuso e insolúvel?

Cuido, entrincheirado nos flancos da quimera
Do riso melindrado que inteiro me rumina

No começo da noite, vagos olhos se encaram
Com palavras ruidosas celebra-se hecatombes

Enfadados de dor, em doses demandadas
Dissimula-se uns tantos quantos suicídios

Pelejas consumadas, descerrados véus toldos
Crimes deslembrados, resta-nos almas penadas

Na cidade grave, malgrado todo pensamento estético
Reflexo e sombra se revesam, para assombro dos incautos


2 comentários:

  1. Paulo, li três vezes com vagar, para apreciar as assonâncias, as paronomásias, as imagens. O poema é a perfeita tradução de som e sentido: intrincados os dois. Mas cheios de beleza!

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