sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Minha Colher no Angú

Apesar da baixaria a serviços de interesses eleitoreiros e politibundos, de nenhuma serventia para o esclarecimento acerca do futuro, acerca do nosso destino enquanto nação, fortalece em mim a ideia de que a sociedade brasileira finalmente encontrou uma estratégia estável de sobrevivência (apenas para usar uma expressão de um professor que admiro muito, pela coragem intelectual e sobretudo sabedoria, senhor Richard Dawkins, de quem li recentemente o Gene Egoísta, que aliás recomendo para todos os meus parentes e aderentes, um livro assaz indolor, apesar do procedimento severamente invasivo com que trata os nossos neurônios).

Apesar da minha adolescência e do primarismo a que ainda me encontro aferrado, por ainda lutar por questões banais, tais como: comer, vestir, estudar, trabalhar, essas coisas, coisas básicas, apesar disto, vejo desenrolar-se um novelo de ideias, uma declaração aqui outra ali, declarações que não tem merecido apreciação dos meios de comunicação, reparo – apenas pequenas notas, quase rodapé, um ou outro jornalista faz este ou aquele comentário, sempre de maneira restrita, para poucas pessoas, talvez porque não sejam idéias importantes, ideias que não querem dizer grandes coisas, assim como uma coisa que não fede nem cheira, entende? Porém ao observar melhor, vejo que está em vias de construção um projeto de nação que, se não nasce de agora, vem de lá muito atrás, desde as lutas para a nossa tão sonhada independência. E me permito fazer aqui uma recomendação: dêem uma olhada no 1822 do professor Laurentino Gomes. A pergunta que o senhor Laurentino faz a respeito de 1822 é porque uma nação que tinha tudo para dar errado, deu certo! O professor diz que deu certo “por uma notável combinação de sorte, improvisação, acasos e também da sabedoria das lideranças responsáveis pela condução dos destinos do novo país, naquele momento de grandes sonhos e muitos perigos”. Pois é, esta revolução vem de longe, meus irmãos. Esta revolução vem sendo gestada há muito tempo, graças a nossa capacidade de sonhar, capacidade de acreditar que, apesar dos arautos dos ardis e das mesquinharias, dos abres-te sésanos de uns poucos, podemos ser melhores, podemos ser o que sempre sonhamos: atores do nosso próprio drama, heróis de nós mesmos. Não pensem que acredito que deus é brasileiro, que o nosso destino está escrito nas estrelas, que fomos abençoados pela magia, nada disto, mas tenho a sensação que a nação brasileira finalmente decidiu acordar do berço esplêndido e está prestando atenção na melodia que está a nos apontar a saída para o buraco da história em que estivemos confinados desde quase sempre.

Recordo que a ideia de transferir a capital do Brasil, do Rio de Janeiro para um ponto mais central do país, nasceu lá nos anos 1800 e só veio a ser concretizada nos anos 60, do século passado, fruto da união do gênio inquieto de um político com o gênio criativo de um arquiteto, provando que Arte e Política tem muito mais afinidades do que possam pensar os rancorosos, os maledicentes, os murmuradores, os caluniadores... Mas é deste jeito, nações são sempre fruto da mente dos sonhadores. Todas as grandes transformações pelas quais a humanidade passou, saíram da mente de muitos, muitos, muitos sonhadores. E quantos não morreram por estes mesmos sonhos? Glória eterna aos nossos mártires. Glória eterna aos nossos sonhadores!

Todos nós sonhamos. Sonhamos com um mundo melhor, barriga cheia, casa para morar, dinheiro para poupar, futuro digno para os filhos, cidades humanas, trânsito pacífico, relações cordiais entre adversários, respeito mútuo, honra e excelência nos negócios públicos e privados... Quem nunca sonhou em encontrar o amor da sua vida e ir, juntinhos, conhecer a cidade dos sonhos? Quem não sonha em viver uma vida plena de atitudes, de atos criativos e depois, claro, ficar bem velhinhos, com bastante saúde, nenhuma ranhetice, para que um dia, finalmente, possa-se morrer com dignidade, de preferência deixando alguma lembrança boa para a posteridade? Quem nunca sonhou com isto? O sonho é o que nos une, não o que nos separa.

Mas para que tudo isto? Quatro parágrafos escritos quase a moda antiga, gongórica, para talvez dizer o óbvio: existe luz no fim do túnel!

Confesso: lá nos anos 80, 90, quando PT e PSDB davam os primeiros passos, eu que havia trabalhado na campanha de Fernando Henrique Cardoso para senador e admirava Mario Covas (saudoso e de boa lembrança, principalmente porque sonhou também a despoluição dos nossos rios Tietê e Pinheiros), imaginava ser possível uma aliança entre aqueles dois gigantes que nasciam determinados a mudar a face no nosso combalido país. O que vemos hoje, certamente deveria fazer com que o alegre Mario arrancasse alguns cabelos e esbravejasse duas ou três palavras de ordens a estes mequetrefes que dizem seguir os seus passos. Bom, deixa pra lá, este sonho acabou. A modernidade, tão sonhada, para o nosso insípido e tacanho capitalismo, não passa mais por esta via.

Mas como política nunca se faz sem a presença de um ou dois príncipes, ou sapos, dependendo do ponto de vista, leio hoje que o jovem Aécio Neves já avisou que, a partir do ano que vem está fora, dá por encerrada definitivamente a média café com leite, e que vai dar a largada para a criação de um novo partido declaradamente de oposição moderada. Isto é ou não é uma boa notícia? Ah, como fiquei feliz, minhas esperanças todas renovadas no futuro brilhante, não sem luta, para os meus netos, bisnetos, tataranetos, etc., etc., e etc.

Só para terminar, no começo deste ano, sem qualquer alarde, Aécio deu por inaugurada, na periferia da cidade de Belo Horizonte, a nova sede do governo mineiro: um conjunto arquitetônico bem bolado – a ideia criativa é espetacular - do nosso genial e eterno Oscar. É o que estava tentando dizer: quando a Arte e a Política, se juntam e interiorizam ações, amiguinhos, não tem pra ninguém, é a pedra de toque, o santo graal, a pedra filosofal, e porque não, a salvação da lavoura.

Adeus Ano Velho/Feliz Ano Novo/Que tudo se realize/No ano que vai nascer/Muito no bolso/Saúde pra dar e vender. Obá! Viva São João. Viva!


3 comentários:

  1. Sabe Paulo como é a ignorância às artes? Meu marido esteve lá estes dias e não teve a mínima vontade de ver... As minhas correntes! quão pesadas se tornam...

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  2. Ah! se não fossem os sonhos! Ou não somos um pouco Dom Quixote?

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  3. Faz falta o Mário Covas, se estivesse por aqui o PSDB não teria tomado os rumos que tomou.

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