Tudo indicava que o edifício era o corredor.
Como vim parar aqui?
Muitas portas. Que abriam salas, salões, quartos, cubículos, passagens... Outros corredores. Portas solenes, formais, pesadas, lacradas, trancadas, arruinadas, escancaradas, entreabertas, curiosas, sedutoras, cantantes, ruidosas... De variadas texturas, inumeráveis formatos, infinitas cores... Portas falsas, enganadoras, portas que conduziam a nada, portas que nos deixavam sempre diante de si mesmas ou que nos enfiava um muro na cara. Portões, portículas... Umbrais...!
No interior de cada cômodo, apenas objetos aguardavam um olhar, eventualmente um toque que despertava lembranças, que nos arrastavam à geografias nunca antes sonhadas inundando o visitante de sensações nunca antes experimentadas.
Sou só eu e este corredor?
Algumas portas tornavam-se familiares, íntimas. Outras assustavam, amedrontavam, aterrorizavam. E havia aquelas que nos provocavam com seus abismos, precipícios, paradoxos, assimetrias, virtualidades... Sem falar das portas estranhas, exóticas, simbólicas, místicas, sagradas...
O quê construiu esta maravilha?
Fácil perder-se por ali. Podia-se passar anos sem que se pudesse voltar a uma porta visitada anteriormente. Era possível passar-se uma vida naquele corredor sem que fossem abertas todas as portas, tantas as possibilidades de entradas que se descortinava a cada dia.
Contudo, lá no fim do corredor, havia uma estranha porta, uma porta escura, recorrente, com uma inscrição no alto da soleira: “Por aqui só se passa uma vez”.
Melhor deixá-la por último.
Nenhum comentário:
Postar um comentário