sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Pássaros visitam árvores

Pássaros visitam árvores.
A quaresmeira despiu-se das derradeiras flores.
Uma safira veio despedir-se daqueles galhos
Uma jovem e irrequieta promessa
Entrou-me pela janela na voz do bem te vi.


Não, não sou mau. Apenas tôsco.
Minhas mágoas se acalmam com um beijo
Minhas faltas uma palavra as acalmam.

É certo que fechei algumas portas, traí algumas rotas...
Mas quem sou eu para dizer isto de mim?

Não quero falar de torpezas.
Queria falar dos albatrozes, aves que nunca vi.

Vou para onde pedras não me apontem.

Vê essa bruta vitalidade, esse tronco de aroeira,
Esse lacre, essa chave enferrujada, esse nó, essa nau desgovernada?
Nunca estou só mas não encontro o tom que baste a obra dada.
Faria de mim um verbo solto, um acorde em brado lento,
Uma pausa na paisagem, um doce vento... desatenta me diz aquela voz.

As planícies que me assolam, de quantos cactos almas se somaram?
A árvore de há muito já extinta, sobrados seixos, eras rebuscadas
Busco recriar em alvores retorcidos de manhãs.

Ó alfojes de cangas tão serranas
Ó piquis, carnaúbas de abas tão longínquas
Houve alguém em tuas lascas?

Onde os mapas que me foram apagados
Onde os vinténs de lorotas
Sorvedouros de salivas desdentadas?
Novenas falecidas de histórias.

Ó cavaleiros tão levados de aboios
Lenços brancos acenam suas tardes.
Tropas forminguentas de voragens
Redes entre corpos tão urgentes
Caminhos na caatinga a palmo largo
Lupanares se acendem em clareiras...
E os corpos das meninas nos altares
Quase um rito pré imposto de passagem.

Esses ecos que me plangem a memoria
Elos gastos, ociosos de malandros,
Fizeram de mim um instrumento.
E agora que sou plano, vasto e tardo
Com ferros me aplaino e me desgasto.

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