Máquina Imaginária, Rodrigo Goda, 2003
Quando
a faísca levitou, no centro da fogueira, em torno da qual estavam
reunidos os mais fortes primatas comedores de carne de búfalo,
sentados para encontrar um jeito de conseguir comida no dia seguinte
e ao mesmo tempo proteger a tribo dos ataques dos vizinhos comedores
de carne de bisonte…
Imediatamente
entraram em transe ao ouvirem a voz amarelo cintilante riscar no ar
meia dúzia de sons e sinais em contraste com as estrelas distantes…
Um
espanto, uma revelação, uma traquitana, uma gambiarra que bem
ajudaria no enfrentamento das dificuldades diárias dos crentes no
último prodígio…
Aquele
que duvidou e ousou desacreditar, coitado, foi ali mesmo despedaçado
e oferecido ao fogo que nutre, anima e numa apressada corrida, risca
o céu noturno tal qual um véu dourado a cobrir os territórios
vizinhos provavelmente para encher de porrada e depois estorricar os
corpos dos inimigos… Urra!
Gargalharam
e se regozijaram numa dança de coreografia improvisada enquanto ao
mais crédulo de todos, um sujeitinho que tinha de músculos o tinha
de mediocridade e estupidez, ocorreu galgar uma pedra que jazia a
tempos ali perto e sonhar um sonho longínquo e ver o futuro
construído a partir daquela centelha...
Uma fagulha a comandar e dar
sentido a essa extravagância denominada Vida onde existimos, nós,
aspectos do sonho sonhado por aquele sonhador remoto, envolvidos por
sedutoras miragens criadas pela geringonça que congrega todo o
conhecimento do Universo apta a responder a toda e qualquer questão
que se tenha a respeito da Existência, protegida por uma seleta,
rica, bonita e bem vestida irmandade responsável por manter acesa a
chama que arde no seu ventre de metal e luz, no fim do arco íris,
paralela à via dos tijolos amarelos, até que tudo se cumpra e outra mais aperfeiçoada engenhoca seja construída e um algoritmo guie cada
primata comedor de carne ao seu devido lugar sem nunca meter o
bedelho onde não é chamado porque Deus disse assim e ponto final.