Caritas Romana, George Pencz, 1538
Noemi
mesmo
sem tempo,
(tinha
que chegar na hora no trabalho)
todo
dia, esbaforida
dava
uma geral na casa
pensando
numa possível noitada
com
aquele colega de departamento
aquele
tal do peitoral sexy
e
promessa gostosa
de
um prazer para além de todo sexo…
mas
o que ela não pensava
é
que não adianta
deixar
a casa um brinco
se
o mundo continua lixo
Noemi
de
quantos e tais detalhes
cansada,
acenava ao coletivo
e
lá ia, encoxada, bolinada,
indiferente
a tudo (menos ao nojo
e
ao colega de departamento
a
lhe atazanar os sentidos…)
no
dia que encontrou coragem
o
convidou para um café
mas
ele a empurrou contra o portão
suspirou
“ahhhh…”, a sufocar seu silêncio
num
gozo alheio e
com
a calça encharcada de gala,
se
mandou pela rua afora
sem
nem ao menos perguntar:
“foi
bom pra ti?”
Noemi
ao
devolver um dos seios para dentro da blusa
ergueu
os olhos para o céu estrelado
ao
tempo em que sentiu os pés
sobre
o indiferente asfalto,
sussurrou
para o vazio,
como
se estivesse diante de um espelho estilhaçado:
–
quem,
diabos, inventou o sexo?