Templo dos Dez Mil Budas, Hong Kong
uma
vez disse a um amigo
que
não suportaria
um
ente querido morrer antes de mim,
sofreria
muito,
preferiria
ir primeiro…
ele,
espantado, me olhou nos olhos e respondeu:
– que
pensamento egoísta
pois
desejo ser o último a partir
quero
que, enquanto puder,
na
última despedida dos meus
seja
minha a mão a dizer adeus
demorei
para compreender essa lógica
mas
ponderei: - já pensou?
quando
me
apartar
em
vez de solidão e vazio
ser
saudado por todos
que,
alegre,
saudamos
no
partir
e
este passou a ser o meu mantra
não
me preocupar com a partida
afinal
– eis o meu conforto
imaginar
que há sempre alguém a nos saudar e honrar
não
trato aqui de religião
não
frequento culto
tampouco
trabalho para erguer igrejas
apenas
me presto a encontrar amigos
no
sagrado templo eventual de um bar
onde,
naturais, fazemos libações
cantamos
a existência
e
saudamos a viva alegria de ainda estarmos aqui
a
testificar um instante
um
tantinho de memória
uma
nesga de lembrança
na
santidade dos amados que partiram
sem
jamais mencionarmos que morreram
por
isto, digo: no dia em que me for
por
favor, camaradas, façam alarde
se
enfeitem, cantem, dancem,
comam,
bebam, gargalhem
dêem
vivas, gritem hurra
vossa
alegria há de expurgar os meus defeitos
e
fazer germinar virtudes
jamais
sonhadas
pois
eu, átomo,
invisível
e silencioso
ao
me juntar à vastidão do universo
serei
mais ínfimo do que sou agora