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sábado, 22 de julho de 2023

modernidade

 

The Motherland, William-Adolphe Bouguereau, 1883



... e assim navego

com mensagens, bilhetes,

curtidas e likes... amo o mundo virtual

 

finalmente me instalei

verdadeiramente humano:

munido de lógica

edições, poses, gestos

nova gramática... me forjo e crio:

agradar ao máximo

 

adoro o mundo virtual...

aqui posso ser

inteligentemente perfeito

ao ponto de ser

naturalmente intragável...

 

... às vezes bate uma saudade

do meu antigo mundo vulgar

onde, rejeitado,

ansiava conquistar o amor da mamãe


 

sábado, 10 de abril de 2021

saudade ácida

 

The Song of Love, Rene Magritte, 1948




teu cheiro permanece em mim…


(tanto te beijei

que nossas bactérias se fundiram)


não há banho ou álcool gel

que apague tua lembrança


e durmo toda noite

ninado

nos braços

desta saudade ácida



sábado, 27 de junho de 2020

contratempo

Farewell, Remedios Varo, 1958




quando me for

para o lugar que desconheço

sentirei saudade de três coisas:

o céu que entontece

o mar que enlouquece

e da mulher amada

- o cheiro que me estremece…


mas ainda não é chegado o momento de adeus

mesmo porque amar pode ser tudo e eterno

pois nos obriga fazer bonito

contra o tempo -

no pouco que nos sucede




sábado, 16 de maio de 2020

inverno precoce

Office in a Small City, Edward Hopper, 1953


se o vírus não me matar
vou morrer de saudade
eu, que fui obrigado a desaprender do abraço
sinto falta de um aperto de mão

dói a ausência
não aquela poética
mas a física, aquela de verdade
de poder deitar a cabeça no teu colo
e sentir o conforto do teu hálito
neste inverno precoce

estou destinado a morrer
sem receber aquela visita inesperada?
sem almoçar com meus amigos numa hora oportuna
sem tomar aquela cerveja fora de hora no boteco da esquina
sem aquele encontro programado de domingo
e a possibilidade de um beijo
no escurinho do cinema?

oh, solidão imposta
quanto me tens sido cruel
ainda mais com a cadela fascista
a desafiar a vida
em tantas ruas mortas