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sábado, 16 de dezembro de 2023

reflection under virus

 

Vírus, Isabelle Pop, 2020




eu, poeira de estrelas

continuo local…


meu vizinho fala tanto

que desperta a solidão do cosmo.


e meus amigos, com razão,

preferem amenidades culturais

(nada que comprometa

a despedida após o porre)

- um abraço, tchau e pronto!


minha memória perdeu o tesão nas sinapses

e me preocupa ter esquecido do futuro...


porque ando a apreciar ratos

que invadem o quintal,

multiplicados tantos…


pesquiso um raticídio e estremeço:

meu medo não é fácil de exterminar.


o que será dos gatos,

dos manguitos que despencam,

da árvore moribunda que cresce ao lado

e acumula uma montanha de folhas mortas?


preciso de uma estratégia

para o descarte do lixo

e que me deixe fora dessa equação.



sábado, 2 de dezembro de 2023

ao redor da beira

 

Cat Catching a Mouse, Ohara Koson, 1930


os ratos logo apareceram

primeiro um

logo, três, quatro

a passearem pelo quintal

e até no jardim

quais comensais

enormes

assustadores


ignorante da teoria dos jogos

pesquisei venenos, modos de aniquilação

mas o I Ching recomendou:

a Natureza há de seguir o seu curso

quietude… a montanha não ruge,

e nem te leva em consideração


eis que surge um cão

e onde tem cão tem gato


os passeios desafiadores

das ratazanas disputando território

escalando paredes

se tornaram escassos

até que numa noite

ouvi ruídos estranhos

a perturbar o sono

ferozes

muito ferozes


no dia seguinte

nenhum roedor desfilou

em meios aos manguitos

no lago de folhas caídas, acumuladas

no quintal


hoje, no entanto, minha alegria nublou

esteve a nadar divertindo-se

no mar das folhas outonais

que caem da mangueira vizinha

o peralta roedor

a me solicitar descarte, dele e das folhas


nas folhas, criei coragem e dei um jeito

quanto ao amiguinho… bem,

não temerei os instantes futuros

e hei de dormir tranquilo

apesar dos ruídos

e presenças esquisitas ao meu derredor


 

sábado, 25 de janeiro de 2020

Um bom dia para desenterrar tesouro


Ilustração de N.C.Wyeth 
para o livro A Ilha do Tesouro
de Robert Louis Stevenson



Thomas Clement Douglas era um pastor batista, nascido na Escócia, que tornou-se um proeminente político social-democrata no Canadá. Como primeiro-ministro da província de Saskatchewan, de 1944 a 1961, pelo partido CCF (Cooperative Commonwealth Federation), liderou o primeiro governo socialista da América do Norte e introduziu o modelo de saúde pública universal, o Medicare. Morreu em 1986. Lembrado por sua sagacidade e atuação destemida em favor dos direitos constitucionais, em 2004 foi eleito o maior canadense de todos os tempos. A Carta dos Direitos de Saskatchewan precedeu, em 18 meses, a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU. Seu idealismo pode ser reconhecido neste conto político conhecida como Mouseland, contada por ele num discurso proferido no ano de 1944. Vamos à fábula:

Esta é a história de Ratolância, uma país semelhante em tudo aos demais. Ali, os ratos viviam e brincavam, nasciam e morriam. Da mesma maneira que eu e você. Em Ratolândia tem casa, tem rua, tem praça, tem fábrica, igreja, escola, hospital… tem também Parlamento. Por isso, a cada quatro anos os ratos faziam uma eleição. Iam às urnas e votavam. Como você e eu. E todas as vezes, os ratos, os camundongos e as ratazanas elegiam um governo. Um governo composto de grandes e gordos... gatos pretos.
Se você acha estranho que ratos escolham um governo composto de gatos, basta olhar para a história do Canadá nos últimos 90 anos e talvez você perceba que eles não são mais idiotas do que nós.
Não tenho nada contra os gatos, acho até que são boa gente… Conduzem o governo com dignidade. Aprovam boas leis - isto é, leis que são boas para os gatos. Mas as leis que são boas para os gatos não são muito boas para os ratos. Uma das leis diziam que os buracos de ratos têm que ser grandes o suficiente para que um gato possa colocar a pata. Outra, obrigava os ratos a viajarem em certas velocidades - de modo que um gato possa tomar seu café da manhã sem pressa. Todas as leis são boas leis…. para gatos.
A vida era dura para os ratos. E foi ficando cada vez mais difícil. Cansados desse estado de coisas, os ratos decidiram que precisavam fazer algo a respeito. Chegaram à conclusão de que deveriam votar, em massa, nos gatos brancos porque eles tinham feito uma campanha fantástica, cujo slogan era: “Abra seu olho”. Em todos os meios de comunicação apareciam os candidatos brancos afirmando: “O problema de Ratolância são esses buracos de rato redondos que temos. Vote em nós que criaremos buracos de ratos quadrados."
E fizeram. Só que os buracos de rato quadrados eram duas vezes maiores do que os buracos de rato redondos, e agora um gato conseguia colocar não uma, mas as duas patas. E a vida foi ficando mais dura do que nunca. Quando os ratos não aguentaram mais, votaram e trocaram o governo dos gatos brancos por… gatos pretos.
E a cada eleição votavam ora nos brancos ora nos pretos. E houve uma eleição, que pra variar, votaram em gatos meio pretos e gatos meio brancos. E chamaram isso de coalizão. E na eleição seguinte votaram nos gatos com manchas. Como podem ver, meus amigos, o problema não é com a cor do gato. O problema é que eles eram gatos. E porque são gatos, naturalmente cuidam de gatos em vez de ratos.
E aí surgiu um ratinho com uma ideia. E disse aos outros ratos: "Por que continuamos a eleger um governo composto de gatos? Por que não elegemos um governo composto de ratos?"…
- Oh, disseram, ele é um comunista. E o colocaram na cadeia. Mas esta é uma atitude inútil, de nada adianta. Afinal, os carcereiros jamais conseguem prender uma ideia e basta que ela consiga entrar na maioria das cabeças para, finalmente, tornar-se realidade”.