Mostrando postagens com marcador Verso. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Verso. Mostrar todas as postagens

sábado, 8 de março de 2025

hoje

 

O que torna as casas de hoje tão diferentes, Richard Hamilton, 1992



hoje, ah hoje…

nem bem acordo o celular dispara

a promoção do dia, o desastre

a falcatrua, a mentira

o imbróglio político, o escândalo

o joguinho que interrompi ontem…

frequência cardíaca a mil,

glicose no teto, bolsa cai…

funerária boa viagem fez uma ligação perdida, ah!

antes que’u esquente ovos pro desjejum

a ia me avisa da teleconsulta

para implorar cardio que

avalie o risco cirúrgico

de uma inevitável remoção de catarata…

em meio a tal burocracia me assalta um pensamento:

pobre burro num corre insano

através de florestas em chamas, terremotos

tartarugas engasgadas com canudinhos de plástico

tô nem aí e améns

a fugir de tigres e tubarões famintos mas

ainda vivo e a ver o burro, zurro e açoito:

no dia derradeiro finda o poema,

a não ser que alguém decida repetir

ou dar continuidade ao verso


 

sábado, 5 de setembro de 2020

estrada de versos

 

The Path of Enigmas, Salvador Dali, 1981




encontrei cassia eller

e depois de umas duas pensei:

- a gente morre tão jovem


eu que já morri tantas vezes

quase sempre esqueço de escrever um poema

e olha que sobra verso nesta vida tão curta


as coisas fogem ao controle

(no mapa que nos tem levado a nada)

faço de um tudo

pra encontrar aquela marca

na próxima lua

que tínhamos combinado cheia


resta preparar o melhor almoço de todos os tempos

e imaginar

você a lamber os beiços

os dedos

estalar aquele sorriso e dizer

a seu modo

que está a fim de dormir aqui em casa...


ah, foi só um sonho

esqueci

de combinar morrermos juntos

com tempo de sobra

para garimpar outro verso