Punindo Negros no Calabouço, Augustus Earle, 1822
Ouvi
de um professor que disse ter ouvido da sua avó.
“No
tempo da escravidão, cinco negros foram mandados para um fazendeiro,
terror da região.
Se,
naquela época, você fosse dono de escravos e, diante de qualquer
desobediência, tivesse que castigar um negro, não perdia tempo
dando chicotada nele, mandava logo para o Santos Silva. O temido
fazendeiro sabia dar um jeito no rebelde.
Assim
que os cinco negros chegaram na fazenda, foram levados direto para o
tronco.
Santos
Silva avisou: - Comigo, vocês vão ficar brancos.
E
ordenou ao açoitador: - Cinco lapadas nas costas de cada um. Se um
de vocês gemer ou reclamar, serão negros para o resto da vida. Mas
os que ficarem em silêncio, se transformarão em brancos. Tenho um
dom da magia, de fazer negro virar branco. Eu mesmo virei branco
através dessa mágica.
Nas
primeiras chicotadas voou sangue para tudo quanto é lado. A roupa de
linho branco do Santos Silva ficou tingida de vermelho…
Plá,
plá… Já
não existia
lugar no
terreiro que não estivesse coberto de sangue… Espirrou sangue até
nas paredes de dentro das casas.
Quatro
negros se mantiveram em silêncio mas, o quinto
gemeu e falou um palavrão em sua
língua nativa.
Santos
Silva mandou parar.
O bigode dele
tremia.
–
Soltem
todos. Agora peguem
só o que gemeu. Ponham
ele no tronco principal. Sei
muito bem o que ele falou.
E
virando para os outros quatro, disse: - Vocês têm mais uma chance
de virarem brancos. Cada um pegue um chicote. Agora terão a
oportunidade de completarem a mágica. Devem chicotear este que gemeu
e me xingou… A cada chicotada, vossa pele ficará mais clara. A
transformação total dependerá da força com que cada um de vocês
chicotear o lombo desse negro.
E
surraram o
quinto,
chicotearam
forte, enquanto o outro
gemia,
urrava, xingava e
amaldiçoava
o mundo.
E
continuaram
os açoites, cada vez mais fortes, cada vez mais letais, mas a
única brancura que conseguiram foi a palidez do medo estampado em
seus rostos”.