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sábado, 6 de junho de 2020

A mágica de fazer branco


Punindo Negros no Calabouço, Augustus Earle, 1822




Ouvi de um professor que disse ter ouvido da sua avó.

“No tempo da escravidão, cinco negros foram mandados para um fazendeiro, terror da região.

Se, naquela época, você fosse dono de escravos e, diante de qualquer desobediência, tivesse que castigar um negro, não perdia tempo dando chicotada nele, mandava logo para o Santos Silva. O temido fazendeiro sabia dar um jeito no rebelde.

Assim que os cinco negros chegaram na fazenda, foram levados direto para o tronco.

Santos Silva avisou: - Comigo, vocês vão ficar brancos.

E ordenou ao açoitador: - Cinco lapadas nas costas de cada um. Se um de vocês gemer ou reclamar, serão negros para o resto da vida. Mas os que ficarem em silêncio, se transformarão em brancos. Tenho um dom da magia, de fazer negro virar branco. Eu mesmo virei branco através dessa mágica.

Nas primeiras chicotadas voou sangue para tudo quanto é lado. A roupa de linho branco do Santos Silva ficou tingida de vermelho…

Plá, plá… Já não existia lugar no terreiro que não estivesse coberto de sangue… Espirrou sangue até nas paredes de dentro das casas.

Quatro negros se mantiveram em silêncio mas, o quinto gemeu e falou um palavrão em sua língua nativa.

Santos Silva mandou parar. O bigode dele tremia.

Soltem todos. Agora peguem só o que gemeu. Ponham ele no tronco principal. Sei muito bem o que ele falou.

E virando para os outros quatro, disse: - Vocês têm mais uma chance de virarem brancos. Cada um pegue um chicote. Agora terão a oportunidade de completarem a mágica. Devem chicotear este que gemeu e me xingou… A cada chicotada, vossa pele ficará mais clara. A transformação total dependerá da força com que cada um de vocês chicotear o lombo desse negro.

E surraram o quinto, chicotearam forte, enquanto o outro gemia, urrava, xingava e amaldiçoava o mundo.

E continuaram os açoites, cada vez mais fortes, cada vez mais letais, mas a única brancura que conseguiram foi a palidez do medo estampado em seus rostos”.