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sábado, 14 de janeiro de 2023

instante 56

 

The Death, Alaa Awar, 2013




ao descobrir

que a condição da Existência

é um encontro

marcado com a Morte,

percebi que devo

deixar uma boa impressão

no Tempo


 

sábado, 7 de janeiro de 2023

instante 50

 

Eternal Illusion, Wojtek Siudmak, sem data




... nunca mais

é muito tempo


deve existir

um espaço

entre o sempre

e o agora

onde seja possível

te reencontrar


 

sábado, 6 de agosto de 2022

quatro quadras

 

Il poeta, Francesco Didioni, 1862



na hora da minha morte

os ponteiros dos relógios

desistirão de perseguir a rotina

e ficarei a mercê do nada

            ...

na minha inocência de criança

pai é aquele que afugenta

o monstro debaixo da cama

enquanto a mãe constrói o futuro

            ...

o animal humano

amontoado de carências

inseguranças e incertezas

costuma morder

                        ...

amor,

não me acorde amanhã

não quero sentir saudade

do que vivemos hoje


 

sábado, 7 de maio de 2022

por dever basta boleto

 

5inco, Alberto Pereira, 2019


gosto muito de relógio

mas gosto mais de contrariá-lo.

antes, no meu tempo de criança, os odiava:

queria dormir,

ficar na cama depois de acordar

era o maior dos prazeres…


hoje não,

se a vida me joga fora da cama bem mais cedo,

aprendi a gostar do passar das horas

(amo as manhãs e as noites

as tardes me entristecem

e as madrugadas me estremecem)

aproveito o tempo

olho a rua

vejo o dia

distingo cada ruído atrevido

a competir com o tagarelar das maritacas…

qual a formato daquela nuvem?

sopra o vento para onde?

os ramos das árvores oscilam mansos

verde dançante que não sai do lugar

(diferente do que explodiu nos meus olhos

em João Pessoa, a doer em mim que

vindo de fora, viu verde pela primeira vez)…


ao encontrar tempo e motivo para ser velho

e babão (choro por qualquer besteira)

confesso: bem melhor é viver

infinitos instantes.



sábado, 12 de dezembro de 2020

reflexão em dia de juízo

 

The Sun, Edvard Munch, 1911


toda vez que me sinto aperreado

penso na minha Morte

e todos os meus problemas

se evaporam

na névoa da inutilidade


mas embora seja libertadora

(e justamente por isto)

não almejo qualquer poder sobre ela


que me alcance

apenas naquele instante

em que o mistério

da minha biologia revelada

permita e contemple


por fim, a seguirei, Mãe...

       (senhora do descanso, fiel à tua paz

que me livra e guarda nessa hora,

       sob a alegria do Tempo - meu pai)

recostado numa ribanceira

nos braços da mulher amada

cercado de netos por todos os lados