ao descobrir
que a condição da Existência
é um encontro
marcado com a Morte,
percebi que devo
deixar uma boa impressão
no Tempo
ao descobrir
que a condição da Existência
é um encontro
marcado com a Morte,
percebi que devo
deixar uma boa impressão
no Tempo
... nunca mais
é muito tempo
deve existir
um espaço
entre o sempre
e o agora
onde seja possível
te reencontrar
na hora da minha morte
os ponteiros dos relógios
desistirão de perseguir a rotina
e ficarei a mercê do nada
...
na minha inocência de criança
pai é aquele que afugenta
o monstro debaixo da cama
enquanto a mãe constrói o futuro
...
o animal humano
amontoado de carências
inseguranças e incertezas
costuma morder
...
amor,
não me acorde amanhã
não quero sentir saudade
do que vivemos hoje
gosto muito de relógio
mas gosto mais de contrariá-lo.
antes, no meu tempo de criança, os odiava:
queria dormir,
ficar na cama depois de acordar
era o maior dos prazeres…
hoje não,
se a vida me joga fora da cama bem mais cedo,
aprendi a gostar do passar das horas
(amo as manhãs e as noites
as tardes me entristecem
e as madrugadas me estremecem)
aproveito o tempo
olho a rua
vejo o dia
distingo cada ruído atrevido
a competir com o tagarelar das maritacas…
qual a formato daquela nuvem?
sopra o vento para onde?
os ramos das árvores oscilam mansos
verde dançante que não sai do lugar
(diferente do que explodiu nos meus olhos
em João Pessoa, a doer em mim que
vindo de fora, viu verde pela primeira vez)…
ao encontrar tempo e motivo para ser velho
e babão (choro por qualquer besteira)
confesso: bem melhor é viver
infinitos instantes.
toda vez que me sinto aperreado
penso na minha Morte
e todos os meus problemas
se evaporam
na névoa da inutilidade
mas embora seja libertadora
(e justamente por isto)
não almejo qualquer poder sobre ela
que me alcance
apenas naquele instante
em que o mistério
da minha biologia revelada
permita e contemple
por fim, a seguirei, Mãe...
(senhora do descanso, fiel à tua paz
que me livra e guarda nessa hora,
sob a alegria do Tempo - meu pai)
recostado numa ribanceira
nos braços da mulher amada
cercado de netos por todos os lados