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sábado, 24 de junho de 2023

sonho

 

Marine Les Equilleurs, Gustave Gourbet, 1870



 

construí um ninho
sobre as horas
para contemplar a brisa
que balança o mar
 
às vezes desejo
contra o vento
que você apareça
e viva comigo
todas as ausências
 
(memórias encenadas na varanda)
 
infinito é o espetáculo
que minhas retinas aplaudem
a menos que eu acorde


 

sábado, 3 de junho de 2023

o mar que fascina

Figure at a window, Salvador Dali, 1925

 

que há com o mar

que fascina?

 

fenícios gregos portugueses

se tornaram familiares do mar

e saíram em busca do paraíso

que sonhavam encontrar em vida


os povos do Pacífico

conhecedores das funduras e larguras

do mar sem fim

permaneceram fieis

à ideia líquida de fluir no ritmo

transparente das águas

que incitam calmarias e tempestades


quanto a nós, ilhéus

familiares quanto antes

por lei não escrita

deixamos que nos fascine o mar

 

por força da evolução

é na terra que moramos

mas o mar

irmão do inconsciente

é a fonte adjunta

dos nossos férteis sonhos





sábado, 20 de agosto de 2022

gastura

 

Finger Snack, Christian Ludwig Attersee, 1965


ontem sonhei com fulana:

danado é que

não lembro mais da sua aparência

faz tanto tempo desde

qu’eu ficava horas

ouvindo sua voz

mansa

a dizer coisas

que me bagunçavam por dentro

sem saber como dizer não…


ontem, pra variar

ela cuidou de esfregar

os dedos dos pés

carinhosamente

no meu rosto

que de tão íntimos

desculpei o cheiro acre

que exalava dos seus dedinhos…


fulana sempre me tratou bem

verdade,

mas o drama

é que eu passei o sono inteiro

temendo ser flagrado

acariciando aqueles pezinhos bofedidos,

que acordei exausto com o esforço que fiz

para o marido dela não dar as caras no sonho.


 

sábado, 16 de abril de 2022

odisseia

 

Tillia Durieux (atriz austríaca) interpreta Circe, óleo de Franz von Stuck, 1912




me amas assim?

preciso ao menos cinco doses!

minha razão não compreende

esse sentir (ah, teu tom, teu olhar além…)

diante da sede de alegria e prazer


a aguardente me permite

navegar a sedução

mas também conduz ao susto e ao sono:

inteiro à tua mercê

isto é desigual, mulher,

impossível te alcançar

– que há comigo que não controlo,

no delírio de te entender, este artifício?


e cisma minha imperfeição, melhor esquecer

sereia encantada: 

teu canto em meus ouvidos

este faz de conta

meu sonho

acessível a todo instante...

basta que me embriague a solidão



 

sábado, 19 de março de 2022

era uma vez quando me fizeste feliz

 

The Dream, Henri Rousseau, 1910




aguarde amor que volto ali ao sonho

para seguir adiante dos fantasmas

a enfrentar meu mais profundo medo…


devo alcançar sejas tu quem sejas

 - brinquemos juntos

e que rias de mim

que rias comigo, que fujas

que não facilites, que não cedas

à minha ansiedade, minha despreparo

meu despropósito…


ah, o desafio de vir a ser…


se acaso, por bondade

(quem sabe prazer ou petulância)

vieres a me ofertar o teu amor

que seja por descompromisso

(amanhã não saberei de mim, quanto menos de nós)

e mesmo que digas espero te ver outra vez

sei da impossibilidade de um castelo

que te guarde à minha espera…

por isto, eis que parto, pois é preciso que eu parta

a carregar esta ilusão – tua lembrança, este sonho...

 

me resta presente

fazer o caminho de volta

a ti, que me deste um momento

 instante feliz

e no caminho, insisto: que tal 

entre tantos poemas possíveis, reviver amor?!


 

sábado, 26 de junho de 2021

fazer música é legal

 

Musician, Thiago Boecan, 2018



lembro que a gente era

criança

a rir

no céu de nós e

brincávamos

que o amanhã

jamais viria tarde demais…


lembro que a gente corria

após a porta da rua

e no descanso ficávamos

a sonhar

aquilo que não faríamos

e nem imaginávamos ser parte

das vidas que levamos agora


ah, mainha

fazer música é tão legal: basta sofrer

e lembrar, com paixão,

que tudo é faz de conta…


viver, que deve ser bom mesmo

sinto

não faço ideia do que seja



sábado, 16 de janeiro de 2021

felicidade

 

Encounter in the Dream, George Stefanescu, 1990




ah, o teu cheiro que me atiça

alecrim ou laranjeira?


que importa…


serás sempre tu

a surgir em meus sentidos


evoco tua presença

nestas quarentenas noites


e vens

inteira, composta de perfumes


e porque sei de tal toque?


por que mesmo em sonho

com a mão sobre meu peito

tens o olhar daquele jeito

ao cochichares que a vida é boa


isto para mim é felicidade:

merecer gostares





sábado, 5 de setembro de 2020

estrada de versos

 

The Path of Enigmas, Salvador Dali, 1981




encontrei cassia eller

e depois de umas duas pensei:

- a gente morre tão jovem


eu que já morri tantas vezes

quase sempre esqueço de escrever um poema

e olha que sobra verso nesta vida tão curta


as coisas fogem ao controle

(no mapa que nos tem levado a nada)

faço de um tudo

pra encontrar aquela marca

na próxima lua

que tínhamos combinado cheia


resta preparar o melhor almoço de todos os tempos

e imaginar

você a lamber os beiços

os dedos

estalar aquele sorriso e dizer

a seu modo

que está a fim de dormir aqui em casa...


ah, foi só um sonho

esqueci

de combinar morrermos juntos

com tempo de sobra

para garimpar outro verso