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sábado, 4 de junho de 2022

Crônicas Pandêmicas

 

Universes, Yosef Joseph Yaakov Dadoune, 2003

1. Quando o fascismo, associado aos liberalistas econômicos e o pentecostalismo de resultado, conseguiram estabelecer velocidade cruzeiro na tarefa de dominar o mundo eis que, no dia 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China.

Uma semana depois, em 7 de janeiro de 2020 as autoridades chinesas confirmaram que haviam identificado um novo tipo de coronavírus, o SARS-CoV-2, transmissível por morcegos, capaz de causar a morte de seres humanos. Segundo uma estimativa do jornal The Economist, seria possível ocorrer entre 7 a 13 milhões de óbitos, algo comparável às mortes durante a 1ª Guerra Mundial.

Dois anos após o início da pandemia, entre vacinas, vacilos, cuidados e doses brabas de negacionismo, um novo normal tornou-se uma perspectiva remota. O mundo, como conhecíamos, desde aquele dia já era. Restaram apenas algoritmos sacanas e a uberização da vida.

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2. A guerra híbrida segue em curso e se desdobra: temos aí a guerra comercial entre os EUA e a China. Em jogo, o domínio da tecnologia 5G pelo mundo afora além da supremacia militar na Ásia e no Oceano Pacifico.

A China é uma superpotência, inegavelmente. Em 60 anos, saiu de uma realidade medieval e agrícola para alcançar o patamar de potência industrial, comercial e científica. Os EUA, guardiões do livre mercado, não aguentam conviver com este concorrente à altura.

Os valentões do velho oeste, e seus capangas, passaram então a fomentar a xenofobia ao apregoarem que o mal estar causado por um vírus que produz pneumonia e leva à morte os indivíduos infectados é obra da genialidade chinesa em busca do domínio total do mundo.

Em vez de solidariedade, o governo Trump declarou que nada faria contra a pandemia porque os chineses já estariam fazendo o que é preciso — um modo de dizer que não iria mover uma palha para evitar que mais e mais norte-americanos e cidadãos pelo mundo afora morram à míngua, o que deveras fez. Enquanto isto, a China construía um hospital para 1000 leitos em 48 horas. 

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3. Salve-se quem puder. Com o coronavírus a recessão só tende a piorar. A produção está sob o efeito da lei da gravidade: cai em direção a lugar nenhum. Mas não perca a esperança, cidadã. Os preços continuarão a subir. Afinal, no capitalismo é assim: não existe solidariedade. É lucro acima e apesar de tudo. Em tempos pandêmicos, questão de três meses, o valor do litro do álcool gel aumentou em mais de 700%. Tabelar os preços, ou manter vigilância contra aumentos abusivos, seria uma medida de grande impacto e sinalizaria um cuidado com as pessoas, pois não? Errado. Sinto muito, mas a senhora não sabe das coisas, não entende nada de economia. Creia, como pensa o desgoverno que nos assola, na capacidade do mercado de se auto regular e aguarde a liberação da primeira parcela do 13º dos aposentados — medida supimpa para evitar a depressão que se descortina no horizonte.

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4. - O paraíso anunciado pela direita tem um céu de mentira.

- E o paraíso da esquerda, por acaso é verdadeiro?

- Para a esquerda não existe paraíso. 




sábado, 5 de fevereiro de 2022

paraíso cruel

 

The Marriage of Heaven and Hell, Keith Haring, 1984


moro num país onde se rouba,

violenta, estupra, tortura, mata,

sonega, saqueia, odeia, difama

desmanda, distorce, explora,

manipula,

escraviza…


e depois exige (talvez até compre)

o perdão de deus


quanto sangue inocente

é preciso

para zerar tantos pecados?


vergonha, remorso, arrependimento…

definitivamente

não fazem parte do nosso portfólio.



sábado, 25 de setembro de 2021

comédia humana

 

The Wedding Dance in the open air, Pieter Bruegel o Velho, 1566



coisinhas indispensáveis em qualquer paraíso:

sol,

brisa,

rede,

poesia,

cerveja gelada,

tira-gosto,

boa companhia…


o resto é cotidiano:

boletos, mercado, médico

e, vez em quando, uma arenga, um luto, uma tristeza

afinal, ninguém consegue viver nas nuvens o tempo todo.