no mundo
existem pessoas boas
existem pessoas más
e existem as mais ou menos…
porém, a maioria das pessoas
que existem no mundo
são indiferentes
não sentem, não ouvem
o clamor da consciência
– quem entre nós continua a ouvir
a mãe clamar nosso nome
e nos alertar que o outro é alguém?
(minha mãe nunca quis que eu destruísse o mundo
porque o mundo, pra minha mãe, sempre foi
o cantinho que ela construiu para mim)
toda vez que me sinto aperreado
penso na minha Morte
e todos os meus problemas
se evaporam
na névoa da inutilidade
mas embora seja libertadora
(e justamente por isto)
não almejo qualquer poder sobre ela
que me alcance
apenas naquele instante
em que o mistério
da minha biologia revelada
permita e contemple
por fim, a seguirei, Mãe...
(senhora do descanso, fiel à tua paz
que me livra e guarda nessa hora,
sob a alegria do Tempo - meu pai)
recostado numa ribanceira
nos braços da mulher amada
cercado de netos por todos os lados
te ensinei tantas coisas...
te ensinei a dançar
a cantar
te ensinei a fazer música
quantas receitas gostosas de comida te ensinei
e as brincadeiras e as histórias…?
pois é: aprendeste a olhar para o céu
as constelações
apreciar os mitos
possibilidades futuras…
te ensinei tudo isto
com a graça e a leveza
que ensinaria
aos meus
e ainda te dei o peito
para que chorasses teu medo e angústia
enquanto sugava meu leite
que nem fosse a coisa mais natural do mundo...
e agora
que tenho as costas moídas, lanhadas
e a vida abreviada pelas pancadas
por ser assim bonita (e sei que sou)
me diga:
que fiz? além de te criar
e te fazer querido, meu filho
- filho que negará me chamar de mãe
