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sábado, 25 de fevereiro de 2023

odisseia II

 

La Rivoluzione siamo noi, Maurizio Cattelan, 2000


 –  que dia lindo!

o relógio do juízo final

marca 00:01:30

para o fim do mundo

vou à luta!

ônibus lotado

salário de merda

desastres naturais

burocracia

assaltos

golpes na internet

sacanagens

pornografia

e eu nadica de nada

enquanto pastores… contudo

ó deus, repartido em postas,

qual a lógica dos juros nas alturas?


de volta ao meu aconchego 

morrer, dormir e talvez sonhar...



 

sábado, 26 de março de 2022

A guerra que nos vive

 

War, Marc Chagall, 1915



Partiria. Atenderia ao chamado, decidiu.

Que o esperasse, com uma torta de frango sobre a mesa, pediu e jurou, diante dos olhos tristes da mulher, que retornaria assim que o conflito terminasse.

A ela (enquanto ajudava na arrumação da mochila) ocorreu que o caos não duraria para sempre…

Até riu, e contentou-se, tudo passa, fixou!


Mas o esperado demorou…

E o tempo, implacável, se sucedeu em opressiva inutilidade.

Então, as mãos cansaram, os seios murcharam… os dentes caíram até


Numa desavisada manhã, sem que nenhum estrídulo de sirene arranhasse o ar, a própria esperança se extinguiu e o relógio cessou a vigília.


O que era vivo faleceu e o que tinha perecido insistia em viver.


Enfardado de cicatrizes e remorsos, o maltrapilho homem cruzou o vão da porta morta.

Automática, a vista perscrutou a sala fúnebre e ao sentar-se à mesa defunta sentiu que o abandono era sua única companhia.

E ali, habituado ao vazio conquistado, compreendeu que morrera no instante em que partira.


Lá fora, a guerra zurrava. 



        

sábado, 12 de março de 2022

instante 47

 

Primavera, Francisco Barreira, 1638




coisinhas indispensáveis em qualquer paraíso:

sol, brisa, rede, poesia,

cerveja gelada, tira-gosto e…

boa companhia.


o resto é arenga do dia a dia



 

sábado, 25 de setembro de 2021

comédia humana

 

The Wedding Dance in the open air, Pieter Bruegel o Velho, 1566



coisinhas indispensáveis em qualquer paraíso:

sol,

brisa,

rede,

poesia,

cerveja gelada,

tira-gosto,

boa companhia…


o resto é cotidiano:

boletos, mercado, médico

e, vez em quando, uma arenga, um luto, uma tristeza

afinal, ninguém consegue viver nas nuvens o tempo todo.



sábado, 24 de outubro de 2020

coisas mais importantes pra fazer


The Multiplicity Worlds, Sergey Belik, 2014




hoje

saiu tudo que nem ontem

(anteontem foi do mesmo jeito):

boas notícias não há

ninguém salvou ninguém

ninguém se apaixonou

ninguém experimentou qualquer epifania

ou compreendeu lições do passado...


hoje

digno de nota, apenas um aumentozinho

das vendas de cosméticos...

ah, sim, sites de celebridades

tiveram mais 50% de visitas que no mês passado


(haja, comédia romântica e besteirol

nas plataformas de streaming...)


hoje,

quem estava com fome e sede

continua faminto e sedento

e nenhuma rede de proteção conseguiu conter a violência

contra pretos pobres periféricos

mulheres, gays, índios, crianças e velhos...


hoje, infelizmente

a dignidade decidiu não dar as caras

(anda dormindo até tarde)

e em nenhum parlamento

foi aprovado qualquer estatuto

que lhe confira autoridade… talvez porque tenhamos

coisas mais importantes pra fazer