tudo na vida cessa
a chuva, o frio, a sorte
até o lamento da morte
a gente esquece e passa
fica somente o ninho
feito de jeito e arte
pra ser abrigo e parte
da vida dum passarinho
tudo na vida cessa
a chuva, o frio, a sorte
até o lamento da morte
a gente esquece e passa
fica somente o ninho
feito de jeito e arte
pra ser abrigo e parte
da vida dum passarinho
a criança sabia, sem saber
que o desafio da alegria
era esquecer
a melancolia, a tristeza
e viver
capitão da rua,
carrinho de rolimã,
asfalto por oceano
na ladeira, íngreme e grave...
(os apressados e distraídos adultos
com a inveja por fardo
fugiam gigantes
da fortuna de ser pleno)
joelhos ralados por medalhas
ranger das rodas, hino de guerra,
meu mundo era a rua
e o tempo
dolorida e doce felicidade
foi "amor à primeira vista"...
logo ele estava a ler jornal
e ela a cuidar da casa
os filhos cresceram
e quanto tiveram idade
o amor repetiu o rito
refugiou todos a casa
ele fechado no jornal
e ela a tecer crochê
outras crianças vieram
ele abusara de ler jornal
enquanto ela pregava botões
o espaço encurtou
vovô, contrariado,
passou a cruzar palavras…
e vovó, liberta,
todos os botões pregados,
começou a ser alegria…
mas faltava rir amanhã