sábado, 25 de fevereiro de 2023

odisseia II

 

La Rivoluzione siamo noi, Maurizio Cattelan, 2000


 –  que dia lindo!

o relógio do juízo final

marca 00:01:30

para o fim do mundo

vou à luta!

ônibus lotado

salário de merda

desastres naturais

burocracia

assaltos

golpes na internet

sacanagens

pornografia

e eu nadica de nada

enquanto pastores… contudo

ó deus, repartido em postas,

qual a lógica dos juros nas alturas?


de volta ao meu aconchego 

morrer, dormir e talvez sonhar...



 

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Crônicas Pandêmicas 4

 

Google Imagens, Motim PM Ceará 2020


Cid Gomes estava certo? Na época, disseram que ele iniciara o enfrentamento das milícias e coisa e tal.

O contingente policial militar cearense, de armas em punho, misturados a milicianos (e quem sabe talvez até com facções criminosas), a partir de um comportamento tipicamente fascista, decretam o fechamento da sociedade, ameaçaram cidadãos, roubaram veículos públicos, furaram pneus de viaturas e motos de patrulha… Tudo em nome de suas reivindicações salariais. Não foi uma greve, foi motim. Que mais reivindicava um militar que ganhava, em fevereiro de 2020, no posto de soldado, 3.700 reais mensais?

(Para que possam sentir o drama… um professor cearense ganhava, em início de carreira, 1.587 reais por mês enquanto o trabalhador médio na terra de Alencar e sua musa Iracema, recebia algo em torno de 1.400 reais mensais).

Policiais militares no Brasil jamais ficaram ou ficam do lado certo das coisas. A formação desses caras não permite isto. Afinal, são treinados para acumular o máximo de raiva, insensibilidade, incivilidade e depois soltos na rua, armados até os dentes, para decantar, em qualquer um que se lhes atravesse o caminho, o ódio em que foram doutrinados. Passam por um treinamento de guerra cujo inimigo somos nós, os cidadãos comuns que, teoricamente, juram todo dia proteger. É assim no Ceará, no Rio, no Rio Grande do Sul, em São Paulo…

(Ah, São Paulo, tu que inventaste a fórmula combater o bom combate não que os teus gestores permitem que policiais invadam escolas e surrem alunos como se estivessem numa sala de tortura do famigerado DEOPS, simplesmente porque a lei foi desrespeitada).

Não é do feitio da polícia investigar: polícia simplesmente condena e pune. O Judge Dredd, filme com Silvestre Stallone, inspira mais esses indivíduos que a nossa Carta Magna e todos os tratados de Ética. Eis o mais terrível entulho herdado do nosso passado escravocrata que foi queimado mas permanece mais vivo que nunca, positivo e operante, solto na pirambeira, descendo o cacete, humilhando e matando.

Algum dia teremos uma polícia de verdade, atuando na causa cidadã e não agindo tal qual gangues de jagunços fardados?

O Cid Gomes se enganchou numa retroescavadeira, derrubou o portão de um batalhão e acabou levando dois tiros, mas isto não resultou numa revolução, como disseram muitas vozes na ocasião. De lá pra cá tudo continua como dantes no quartel de abrantes. A tormenta passou, mas não se viu nenhuma palha sendo levantada no sentido de mudar o sistema como se faz segurança pública no Brasil. Cadê os sujeitos arretados para colocar na pauta a extinção das polícias militares?

O grupelho fascista, desafeto mor da cidadania, foi apeado do poder, mas tal qual o neoliberalismo econômico praticado por nossa autoridade monetária atual, as cabeças da Hidra continuam serelepes e os progressistas ainda não aprenderam a queimar as cabeças dessa quimera.


sábado, 11 de fevereiro de 2023

Crônicas Pandêmicas 3

 

Proclamação da República, Benedito Calixto, 1893


A Proclamação da República foi um movimento militar patético, um golpe frouxo dado em cima de Dom Pedro II, figura erudita, triste, que adorava fotografia e tinha grande apreço pela Ciência e Tecnologia (manteve extensa correspondência com alguns expoentes científicos do seu tempo).

Infelizmente, apesar de contar com apoio popular, perdeu o gosto pela pompa e circunstância da coroa e acabou por decidir largar mão de tudo e se mandar, pobre, para o exílio.

O regime instaurado, só fez acumular fracassos, tornando-se gerador de sucessivos governos fracos e incompetentes para tocar, por exemplo, o projeto de Brasil saído da cabeça do velho imperador que soube manter a estabilidade política e a liberdade de expressão por 58 longos anos.

Longe de mim, querer a volta da Monarquia, ainda mais olhando para os atuais descendentes reais, uma turma de carolas que não merecem sequer cheirar um peido do Dom Pedro (inventor, segundo a lenda, do maior passatempo brasileiro, verdadeira homenagem à astúcia e a esperança brasileiras: o nosso traquinas jogo do bicho).

Taí, entre as gangues milicianas atuais e os velhos capos da contravenção, sem dúvida nenhuma sou mais os presidentes eméticos das escolas de samba – muito mais honestos, coerentes, insubmissos e perfeitamente engajados com as coisas, os costumes das gentes brasileiras, nacionalistas genuínos, sempre desconfiados com relação a tudo que cheire ou venha do estrangeiro. Brizola estava certo.