... nunca mais
é muito tempo
deve existir
um espaço
entre o sempre
e o agora
onde seja possível
te reencontrar
... nunca mais
é muito tempo
deve existir
um espaço
entre o sempre
e o agora
onde seja possível
te reencontrar
A História Ocidental
É a história
De um conflito interminável
Entre três irmãos
Pela posse da Terra
(Que por ser de todos
Nunca foi e jamais será
De nenhum em particular)
… Alexandre encontrou o Oriente
Marco Polo também
Os Portugueses, os Ingleses, todos
(Inclusive os Beatles)
Encontraram o Oriente
Depois do próprio ter encontrado a si
E do alto da montanha amuralhada
Permitir que todos os turistas vazem
E levem pra bem longe sua infeliz doença…
A história ocidental
É a história de um trauma não resolvido
(E muito mal tratado – individual e coletivamente),
Sobre a qual o Oriente caga, anda
E com toda a compaixão do mundo,
Se esbalda de rir
Mas alimentemos o jardim, construído nas nuvens
E quem sabe, finalmente Deus acorde,
Incomodado pelo perfume das flores
E o zumbido das abelhas
E finalmente sejamos todos contagiados
Por uma ideia verdadeira e substancial
Bem mais simples e real… mesmo que o Oriente
Continue a rir de nós, do nosso jeito adolescente
sim, quero a última brisa, o último orvalho
o derradeiro canto do bem-te-vi
e o vôo rasante do rasga-mortalha…
sim, deste mundo quero a última mirada,
o último ruído e o definitivo arrepio…
(eis que, no limite, percebo
que amar é descausar desconforto
e, pacífico, recuar com um beijo)
sim, seguirei ao último instante
em busca da palavra
que legue à posteridade meu último suspiro…
(mas eis, quem sabe aconteça
ficar num hiato mudo, entre a vigília e o sono
na misteriosa passagem
onde o inverno entrega à primavera
o magnífico comando das coisas e dos nomes…)
e acaso ocorra me faltar o fôlego
para encerrar esse último e simplório ato
mesmo desbotado
ensaiarei um sorriso largo
e talvez, alcance apenas dizer: valeu
adeus!